sexta-feira, 18 de abril de 2025

Crítica: Simplesmente eu, Clarice Lispector




"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome".  Clarice sendo Clarice.
Um convite à maestria do Teatro e da Literatura se encontra no espetáculo "Simplesmente eu, Clarice Lispector ", com extrema elegância somos invadidos pela maravilhosa e vasta escritora Clarice Lispector através da impecável atuação de Beth Goulart. Absolutamente impecável!
Quem nunca leu Clarice fica instigado a conhecer sua vida e sua obra, quem já leu ou teve essa experiência tem vontade de correr para suas verdades profundas novamente.
O que dizer de um espetáculo que fez tanto sucesso, que foi visto por mais de 1 milhão de pessoas, em mais de 280 cidades e que retorna depois de dez anos, muito pulsante, vibrante, delicado, pura arte que convida ao amor, ao próximo, à busca de Deus, do Eu?
O espetáculo foi moldado em entrevistas, cartas e 4 personagens das obras da autora: Joana, Lori, Ana e Mulher sem Nome.
E Beth Goulart! Que maravilhoso vê-la atuar, dirigir e, com grata felicidade, ouví-la como sempre com magistral dicção e movimento corporal perfeitos e um canto primoroso. Atriz e personagem trazem ao público um resultado potente, transbordante de questionamentos, de filosofia, de poesia, mas sobretudo abordando o preenchimento de si mesma quando nada "parece" perfeito.
Clarice Lispector foi estudada em Universidades de Psicologia que a tratam como psicótica, mas o que isto importa quando essa figura se tornou uma das mais expoentes escritoras no Brasil a não ser a intensidade de como vivia e percebia a vida? Transformou seus fragmentos em histórias que, inclusive, foram vistas no Cinema. 
Do livro "Água Viva":
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada".
Em "A Descoberta do Mundo":
"E, se você me achar esquisita, respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar".
A supervisão da atriz é  do mestre Amir Haddad. Esse mestre do Teatro universal  extrai o que está na simplicidade do essencial.
Cenário muito funcional que visa o vazio, mas cá para nós é de beleza incontestável assinado por Ronald Teixeira e Leobruno Gama.
Figurinos sofisticados e refinados de Beth Filipecki, completamente adequados para tantas trocas.
Iluminação perfeita de Maneco Quinderé, quantos aplausos cabem em cada foco de luz!
Direção de movimento, diga-se de passagem,  gestual com início, meio e fim  muito bem acabados da talentosa Márcia Rubin.
Trilha sonora original de Alfredo Sertã, inspirada em compositores como Erik Satie, Arvo Pärt e Astor Piazzolla.
A preparação vocal impressiona. A responsável por isso é Rose Gonçalves.
Beth Goulart se debruçou por 2 anos na obra de Clarice Lispector e com profunda identificação é responsável também pela adaptação.
Clarice disse certa vez que escrevia através de imagens porque estas são mais rápidas do que as palavras. No meu entender, esse pensamento traduz muitíssimo a literatura da autora.
O espetáculo ficará até dia 27 de abril no Teatro Prio, ali no Jockey, mas não fiquem tristes se não puderem ir até essa data, pois haverá uma nova temporada iniciando no dia 09 de maio, no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea.
Sobre o amor, termino aqui essa resenha:
"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil". Clarice sendo Clarice. Beth sendo Clarice e nós de pé aplaudindo ambas.





Serviço:
“Simplesmente eu, Clarice Lispector” @ Teatro I Love PRIO
Temporada: 14 de março a 27 de abril de 2025
Datas MARÇO: 21, 22 e 23 e 28, 29 e 30 de março | sexta a domingo
Datas ABRIL: 3 a 27 de abril | quinta a domingo
Dias: 3, 4, 5 e 6 – 10, 11, 12 e 13 – 17, 18, 19 e 20 – 24, 25, 26 e 27 de abril
Horários: quinta a sábado às 20h, domingos às 19h
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos  
Capacidade: 352
 

 

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