domingo, 19 de setembro de 2021

Escombros

Objetos soltos em  escombros vão sendo resgatados e a partir deles passa a existir uma cena. Em meio à  devastação daquele universo e de relações deterioradas, todos os personagens  enlameados chafurdam no caos.

O espetáculo do Grupo Sobrevento, que está comemorando 30 anos de existência,  não poderia ser mais contundente, principalmente porque identificamos naquelas ruínas, naqueles cacos, naquela desordem e na firmeza dos personagens em se manterem  em pé uma identificação imediata. O Sobrevento nos espelha, pois se fôssemos traduzir em imagens o mundo em que vivemos,  encontraríamos nossos fragmentos no espetáculo.

 A dramaturgia é de autoria de Sandra Vargas. O espetáculo criado a partir do Teatro de objetos, linguagem que o grupo pesquisa há mais de uma década e com a colaboração das companhias francesas Théatrê de Cuisine e Théatrenciel, parte de uma ideia simbólica, mas perfeitamente demostrada, seja através de um casal que precisa de ar para continuar sua falida rotina, seja através de outro onde não cabe nem mais um diálogo tête-à-tetê,  ou ainda daquele que carrega suas dores retratadas em pedras. Enfim, os diálogos são diretos e não deixam dúvidas. As ruínas estão por toda parte , bem como em cada um dos personagens. A dramaturgia é sólida e criativa. Responsável direta por nos deixar boquiabertos. " A destruição do nosso entorno, a ruína de nossas construções, de nossa casa, de nossos sonhos termina por contaminar as nossas relações com os outros e, por fim, entranha-se em cada um de nós,  penetrando-nos os ossos e a alma", diz Sandra Vargas.

A direção também de Sandra Vargas e de Luiz André Cherubini é visualmente muito bonita! Apesar da destruição, a escolha pela lama no cenário e nos próprios personagens tem o condão de fazer com que imediatamente o espectador faça a leitura correta do que vê e do que está por vir. O espaço é muito bem aproveitado e os objetos, claro, são personagens à parte, eles são o fio condutor das cenas. Tais como as cadeiras, exploradas de todas as formas e possibilidades, as xícaras presentes em vários momentos, fragmentos que representam uma casa, tudo na mais completa harmonia cênica. Todas as intenções são perceptíveis. A direção dita o ritmo correto até chegar ao ápice.

Os atores estão perfeitos, no tom que a encenação exige, todos têm o momento apropriado para se destacarem. O elenco é composto por Sandra Vargas, Luiz André Cherubini , Maurício Santana, Sueli Andrade, Liana Yuri e Daniel Viana.

Os figurinos de João Pimenta são adequadamente brancos. Falam por si, pois têm uma representação muito importante naquele contexto de desolação.

A iluminação de Renato Machado é forte, marcante e precisa.

A música de Arrigo Barnabé e a canção de Geraldo Roca cantada por Márcio de Camillo tocam profundamente a alma do espectador, além do tom crítico muito necessário neste momento.

Nem sempre gostamos da nossa imagem vista no espelho, mas o que se vê em Escombros é de lavar a alma. Que belo retrato do mundo atual!

 

Escombros

Até 03 de outubro de 2021 (sextas-feiras, sábados e domingos).

Horário: 20h

On-line

Espaço Sobrevento: Rua Coronel Albino Bairão, 42 – Belenzinho (a duas quadras do Metrô Bresser – Moóca) – São Paulo

Para reservar seu ingresso virtual , envie um e-mail para info@sobrevento.com.br. É gratuito.

 

 

 

 

 

 

 

           

 

 

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