Objetos soltos em escombros vão sendo resgatados e a partir deles passa a existir uma cena. Em meio à devastação daquele universo e de relações deterioradas, todos os personagens enlameados chafurdam no caos.
O espetáculo do Grupo Sobrevento, que
está comemorando 30 anos de existência,
não poderia ser mais contundente, principalmente porque identificamos
naquelas ruínas, naqueles cacos, naquela desordem e na firmeza dos personagens
em se manterem em pé uma identificação
imediata. O Sobrevento nos espelha, pois se fôssemos traduzir em imagens o
mundo em que vivemos, encontraríamos
nossos fragmentos no espetáculo.
A dramaturgia é de autoria de Sandra Vargas. O
espetáculo criado a partir do Teatro de objetos, linguagem que o grupo pesquisa
há mais de uma década e com a colaboração das companhias francesas Théatrê de
Cuisine e Théatrenciel, parte de uma ideia simbólica, mas perfeitamente demostrada,
seja através de um casal que precisa de ar para continuar sua falida rotina,
seja através de outro onde não cabe nem mais um diálogo tête-à-tetê, ou ainda daquele que carrega suas dores
retratadas em pedras. Enfim, os diálogos são diretos e não deixam dúvidas. As
ruínas estão por toda parte , bem como em cada um dos personagens. A
dramaturgia é sólida e criativa. Responsável direta por nos deixar
boquiabertos. " A destruição do nosso entorno, a ruína de nossas
construções, de nossa casa, de nossos sonhos termina por contaminar as nossas
relações com os outros e, por fim, entranha-se em cada um de nós, penetrando-nos os ossos e a alma", diz
Sandra Vargas.
A direção também de Sandra Vargas e
de Luiz André Cherubini é visualmente muito bonita! Apesar da destruição, a
escolha pela lama no cenário e nos próprios personagens tem o condão de fazer
com que imediatamente o espectador faça a leitura correta do que vê e do que
está por vir. O espaço é muito bem aproveitado e os objetos, claro, são
personagens à parte, eles são o fio condutor das cenas. Tais como as cadeiras,
exploradas de todas as formas e possibilidades, as xícaras presentes em vários
momentos, fragmentos que representam uma casa, tudo na mais completa harmonia
cênica. Todas as intenções são perceptíveis. A direção dita o ritmo correto até
chegar ao ápice.
Os atores estão perfeitos, no tom que
a encenação exige, todos têm o momento apropriado para se destacarem. O elenco
é composto por Sandra Vargas, Luiz André Cherubini , Maurício Santana, Sueli
Andrade, Liana Yuri e Daniel Viana.
Os figurinos de João Pimenta são
adequadamente brancos. Falam por si, pois têm uma representação muito
importante naquele contexto de desolação.
A iluminação de Renato Machado é
forte, marcante e precisa.
A música de Arrigo Barnabé e a canção
de Geraldo Roca cantada por Márcio de Camillo tocam profundamente a alma do
espectador, além do tom crítico muito necessário neste momento.
Nem sempre gostamos da nossa imagem
vista no espelho, mas o que se vê em Escombros é de lavar a alma. Que belo
retrato do mundo atual!
Escombros
Até 03 de outubro de 2021
(sextas-feiras, sábados e domingos).
Horário: 20h
On-line
Espaço Sobrevento: Rua Coronel Albino
Bairão, 42 – Belenzinho (a duas quadras do Metrô Bresser – Moóca) – São Paulo
Para reservar seu ingresso virtual ,
envie um e-mail para info@sobrevento.com.br. É gratuito.
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