Na programação do Teatro Sesc em Casa há um espetáculo onde uma jovem e madura atriz domina a cena com uma bela entrega e, com certeza, muita pesquisa. Refiro-me a sempre surpreendente atriz Mel Lisboa no monólogo “Helena Blavatsky – Amores Ocultos”. É digna de realce a pesquisa vocal, corporal, emocional e histórica da personagem.
Essa crítica inverte os
parâmetros do formato a que estamos acostumados em que, de início se retrata o
texto e a direção, para somente após tratar da análise da interpretação porque
neste caso específico a atuação da atriz é a grande responsável pelo verdadeiro
sentido do fazer teatral. Mais adiante virão os comentários sobre a excelente
concepção textual e a não menos brilhante direção. No entanto, faz-se
necessário um olhar atento à interpretação de Mel Lisboa que encara uma
personagem, até nos dias de hoje, de difícil compreensão e o faz ressaltando o
que há de mais humano nela.
Vemos Helena Blavatsky com
suas angústias, lutas, muitas vezes solitária, vivenciando seus dons que
culminaram com a inauguração da Sociedade Teosófica, uma escola que visava
comprovar cientificamente o misticismo filosófico. Vemos a ocultista ultrapassando
diversos ódios recebidos , mas vemos acima de tudo a tenacidade com que
enfrentou cada dificuldade social e pessoal. Com o corpo curvado, o andar com
passos pequenos, a voz rouca, diga-se de passagem de difícil manutenção, com os
sentimentos à flor da pele, Mel Lisboa nos apresenta com maestria sua
personagem e não poderia ser diferente já que a atriz é um dos grandes
destaques de sua geração.
O texto de Claudia Barral
que se autodenomina não-peça advém da peça homônima de Plínio Marcos, escrita
para que fosse interpretada por Walderez de Barros, é de um profundo acerto.
Qualquer espectador, pela construção textual, conhece a vida e os feitos da
escritora e médium russa. Desde a infância, juventude, casamento, a ida ao
encontro de seu destino, em tudo há muita clareza e precisão que tem como
resultado o interesse constante do público.
Quanto à direção de Márcio
Macena há, muito bem estruturada, a proposta em que Mel é Mel e Helena é
Helena. Com marcas precisas que não criam dúvidas em que momento é a própria
atriz que faz às vezes de médium e em que momento é a encarnação de Helena Blavatsky
falando por si mesma. Há marcas que ao serem repetidas criam um código que não
deixa dúvidas na plateia. O espetáculo
cresce com o movimento de objetos que fluem de acordo com a presença dos
espíritos que sempre estiveram ao seu redor. Cumpre destacar que a direção
oferece todo o norte para a interpretação da atriz em alto nível.
A iluminação, o cenário e o
figurino estão em uníssono com a proposta e merecem aplausos.
Trata-se de um espetáculo
que deve ser visto assim que possível, quando houver nova oportunidade, pois se
trata da mais fina flor do Teatro. Neste ano tão difícil é um alento assistir
ao espetáculo e constatar que o Teatro como a água de um rio sempre sabe contornar obstáculos.
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