segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Helena Blavatsky - Amores Ocultos

 

Na programação do Teatro Sesc em Casa há um espetáculo onde uma jovem e madura atriz domina a cena com uma bela entrega e, com certeza, muita pesquisa. Refiro-me a sempre surpreendente atriz Mel Lisboa no monólogo “Helena Blavatsky – Amores Ocultos”. É digna de realce a pesquisa vocal, corporal, emocional e histórica da personagem.

Essa crítica inverte os parâmetros do formato a que estamos acostumados em que, de início se retrata o texto e a direção, para somente após tratar da análise da interpretação porque neste caso específico a atuação da atriz é a grande responsável pelo verdadeiro sentido do fazer teatral. Mais adiante virão os comentários sobre a excelente concepção textual e a não menos brilhante direção. No entanto, faz-se necessário um olhar atento à interpretação de Mel Lisboa que encara uma personagem, até nos dias de hoje, de difícil compreensão e o faz ressaltando o que há de mais humano nela.

Vemos Helena Blavatsky com suas angústias, lutas, muitas vezes solitária, vivenciando seus dons que culminaram com a inauguração da Sociedade Teosófica, uma escola que visava comprovar cientificamente o misticismo filosófico. Vemos a ocultista ultrapassando diversos ódios recebidos , mas vemos acima de tudo a tenacidade com que enfrentou cada dificuldade social e pessoal. Com o corpo curvado, o andar com passos pequenos, a voz rouca, diga-se de passagem de difícil manutenção, com os sentimentos à flor da pele, Mel Lisboa nos apresenta com maestria sua personagem e não poderia ser diferente já que a atriz é um dos grandes destaques de sua geração.

O texto de Claudia Barral que se autodenomina não-peça advém da peça homônima de Plínio Marcos, escrita para que fosse interpretada por Walderez de Barros, é de um profundo acerto. Qualquer espectador, pela construção textual, conhece a vida e os feitos da escritora e médium russa. Desde a infância, juventude, casamento, a ida ao encontro de seu destino, em tudo há muita clareza e precisão que tem como resultado o interesse constante do público.

Quanto à direção de Márcio Macena há, muito bem estruturada, a proposta em que Mel é Mel e Helena é Helena. Com marcas precisas que não criam dúvidas em que momento é a própria atriz que faz às vezes de médium e em que momento é a encarnação de Helena Blavatsky falando por si mesma. Há marcas que ao serem repetidas criam um código que não deixa dúvidas na plateia.  O espetáculo cresce com o movimento de objetos que fluem de acordo com a presença dos espíritos que sempre estiveram ao seu redor. Cumpre destacar que a direção oferece todo o norte para a interpretação da atriz em alto nível.

A iluminação, o cenário e o figurino estão em uníssono com a proposta e merecem aplausos.

Trata-se de um espetáculo que deve ser visto assim que possível, quando houver nova oportunidade, pois se trata da mais fina flor do Teatro. Neste ano tão difícil é um alento assistir ao espetáculo e constatar que o Teatro como a água de um rio sempre sabe contornar obstáculos.

 

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