O espetáculo Júlia E O Lobo:
Um Despertar Feminino, escrito em 1991, por Lindemberg Monteiro, também diretor
da versão online, busca através da paixão da mulher por um lobo que encontra na
floresta, uma reflexão sobre temas representativos do universo feminino.
A trama contada por três
bruxas já é em si uma abordagem da misoginia, na medida em que ao contrário de
como é retratada atualmente, desde tempos idos a bruxaria ou o mal foi atribuído às mulheres, culminando
com a famosa caça às bruxas. É fato que as mulheres foram muito mais associadas
às feitiçarias do que homens, como se extrai da obra “História da Bruxaria:
Feiticeiras, Hereges e Pagãs”, de Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander.
As bruxas Eulália, Sosmara e
Abigail vão contextualizando o destino de Júlia que ao se apaixonar pelo lobo
desenvolve instintos e uma percepção mais apurada, libertando sua sexualidade
até o momento em que entra em cena a caçadora de lobos, Helena, figura representativa da caça à liberdade
feminina. Desde o patriarcado, a libertação feminina foi cerceada, culminando
nos dias atuais com o constante aumento do feminicídio, tema igualmente
abordado no texto através da metáfora final.
O texto contém muitas
alegorias e simbologias. Porém, um pouco excessivas fazendo com que o espetáculo
não flua mais naturalmente, o que de maneira alguma chega a comprometer sua
inegável qualidade.
A direção é muito hábil ao
dividir em três espaços a sala de vídeo, cada qual ocupado por uma das bruxas,
o que abre o olhar do espectador, dividido nos planos em que as ações ocorrem
sem cessar, em distintos cenários e uma iluminação muito certeira.
As atrizes, em um trabalho
exigente no que diz respeito ao volume e profundidade do texto, atuam explorando
as matizes das personagens, sendo muito responsáveis pelo feliz resultado do
espetáculo. Kenny Alberti, Alline Ferreira e Maggie
Schneider imprimem através do timbre da voz e do gestual a languidez, a
sensualidade, o instinto, a complexidade e a força de suas personagens. Um
elenco, sem dúvida, afinadíssimo.
Por fim, a beleza da música tema de Flora Menezes e Lindemberg Monteiro é incontestável.
Júlia E O Lobo: Um Despertar Feminino
é um espetáculo criativo, profundo, relevante e fundamental nesta temporada.
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