“A Invenção do Nordeste”, premiado espetáculo do Grupo
Carmin, encerra sua temporada no Rio de Janeiro e segue para São Paulo.
Comentar essa peça é irresistível, pois deveria permanecer muitos e muitos anos em
cartaz porque trata de nós mesmos. Cada um de nós está lá desde as primeiras
perguntas direcionadas à plateia:" Quem é nordestino? Quem tem parente nordestino? Quem conhece algum nordestino? Quem tem um porteiro....".
O espetáculo aborda de forma irônica, crítica, cômica e
atualíssima o nordeste a respeito de suas contribuições e da forma como se vê e
como é visto. Uma crítica à xenofobia, ao estereótipo do nordestino e ao
tratamento que está sendo dado ao seu povo até nos dias de hoje.
A partir de um teste para a escolha de um ator nordestino
que interpretará um personagem nordestino, no processo conduzido pelo diretor
vemos todo um histórico do surgimento, resistência e afirmação da importância
de uma região que muito contribui para o país, mas que ao mesmo tempo nela cabe
um país inteiro. Inspirado na obra de Durval Muniz de Albuquerque Jr, o texto
de Pablo Capistrano e Henrique Fontes é consistente ao abordar temáticas como o
cangaço, a religião na figura de Padre Cícero, o coronelismo, inclusive na
política, o jeito e os costumes, a luta pelo reconhecimento. Tarefa tão
arduamente ensaiada pelo diretor na busca do ator para o papel que o desfecho,
por incrível que ainda possa parecer, é o avesso do esperado.
Quitéria Kelly, que assina a direção, imprime dinamismo através
de cenas por vezes coreografadas milimetricamente, por vezes sutilmente
delineadas. Com a utilização de elementos audiovisuais, a diretora coloca os
atores contracenando com imagens projetadas e constrói outras que despertam a
atenção do espectador como na cena em que tomam café e criam com o seu pó o
mapa imaginário do que poderia ser o país Nordeste. Esse é só um exemplo das muitas invenções da direção.
Os atores Henrique Fontes, Mateus Cardoso e Robson
Medeiros estão à vontade para o exercício teatral que passeia pelo tom jocoso,
caricato, cômico e essencialmente crítico. Um trio afinado e com muitos
recursos corporais e vocais faz do texto seu apoio, mas não seu único
refúgio. Através deles, cada palavra e cada gesto causam a certeza de que se
está diante de aprazíveis atuações.
Cenário, figurino, iluminação têm o poder de abrilhantar
o espetáculo.
O Brasil não é o berço do futebol, de Carmen Miranda e do
café. O futebol é criação dos ingleses, Carmen era portuguesa e o café veio
parar aqui através de uma muda trazida da Guiana Francesa. Como na música
"Querelas do Brasil", de Aldir Blanc, a comédia “A Invenção do
Nordeste” dá a dimensão de que o Brasil não conhece o Brasil.
A Invenção do Nordeste
Teatro Carlos Gomes - Rua Pedro I, nº4 - Centro - Tel: 2224-3602
Temporada : 18 a 28 de Julho
Quintas, sextas e sábados , às 19h e domingos, às 18h
Ingressos: R$ 40,00 ( Inteira ) R$ 20,00 ( Meia )
Duração: 60 minutos
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