Diz o dito português: ¨quem não quer ser lobo não lhe
vista a pele¨, ou seja, quem não quer arcar com as consequências não pratique
os atos. O espetáculo veste a pele e alcança resultados muito positivos.
O Ator e o Lobo, composto por textos do premiado escritor
português António Lobo Antunes e de Pedro Paulo Rangel, brinda o espectador com
situações instigantes costuradas com narrativa ficcional e memórias do próprio
ator. O filho que não aceita o interesse da mãe por alguém mais jovem, irmãos
que compartilham a cumplicidade de urinar lado a lado no jardim, o homem que
aguarda na rua a chegada de uma mulher que nunca vem... E como dito lá
reproduzo cá: ¨as riquezas interiores me emocionam¨. São, portanto, incontáveis
temáticas repletas de humanidade.
Sabe-se que o teatro existe em razão do ator. Pedro Paulo
Rangel ocupa esse espaço de forma singular. São muitos os personagens
interpretados com preciosos detalhes, seja na modulação da voz, nas pausas, na comovente
lembrança afetiva, na fina ironia. Sem exageros o espectador é convencido de
suas presenças. A atuação, cheia de sutilezas, faz nascer através de um único
gesto novo personagem e contexto. Em determinado momento, a respeito de uma
foto de turma projetada na cortina, o ator comenta que era o único sorridente.
Cada qual é para o que nasce. Pedro Paulo Rangel comemora seus cinquenta anos
de carreira com exímia atuação num monólogo que traz um sorriso à alma.
A direção de Fernando Philbert propõe o retorno à sugestão
no teatro. Muito apropriado ao fazer teatral. No teatro, as sugestões são
pontos de partida para que a plateia embarque nas ideias propostas. E assim, um
jornal na cabeça sugere a chuva, um xale sugere a avó, uma cadeira é outra
pessoa com quem se dialoga... Constantemente, algo se transforma e surpreende.
Na direção sensível de Philbert, o teatro mostra suas verdadeiras raízes.
O cenário de Fernando Mello da Costa com cadeiras e objetos
diversos é o exato necessário para o desenrolar das cenas. O figurino de Helena
Araújo retrata um típico português. A iluminação de Aurélio de Simoni constrói
e desconstrói atmosferas enriquecendo a transição entre as histórias.
Num tempo em que a humanidade se distancia, O Ator e o
Lobo lança um olhar profundo sobre o ser humano e suas fragilidades.
O ATOR E O LOBO
Temporada: de 12 de abril a 2 de junho de 2019
Dias e horários: Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h
Teatro Poeira: Rua São João Batista, 104 - Botafogo
Informações: (21) 2537-8053
Ingressos: R$ 70 (inteira) | R$ 35 (meia)
Vendas: tudus.com.br
Horário de funcionamento da bilheteria:
Terça a Sábado, das 15h às 21h. Domingo 15h às 19h
www.teatropoeira.com.br
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

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