terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Tebas Land




Assim que o espectador entra na sala começa o teatro dentro do teatro. O espetáculo não é somente sobre conversas entre um dramaturgo e um parricida como fonte de inspiração para uma peça, mas também os preparativos do ator e diretor para a montagem, chamados propositadamente com o nome dos artistas que encenam Tebas Land, Otto e Robson. A metalinguagem, por vezes, ultrapassa a quarta parede, a parede imaginária que separa o público da encenação.

O texto do uruguaio Sergio Blanco  que é apresentado pela primeira vez no Brasil já foi encenado em outros países e premiado com o Award Off West End em Londres. O texto é inspirado no mito do Édipo e na vida de São Martinho de Tours, santo europeu do século IV. É um texto que apresenta uma reflexão sobre o ser humano, o desamor e o resultado disso, a relação filial e o olhar sobre o outro.

 A direção de Victor Garcia Peralta arma uma ótima teia para o espectador. O espetáculo se desenvolve dentro e fora de uma quadra de basquete da prisão e os quatro quartos de tempo do jogo cênico até a prorrogação vão sendo expostos num quadro branco dissecando ora a vida real do parricida, ora a transformação deste num personagem. E isso é perfeitamente demonstrado através de marcações repletas de intensidade. Por vezes, o público é instigado  a participar e tem vontade de interagir como na cena em que numa crise epilética de Martín, o dramaturgo Otto pede socorro com olhos fixos para a plateia.  A brilhante direção constrói cenas impactantes a todo instante.

O ator Otto Jr. imprime segurança e empatia com o público desde o primeiro momento e essas características também aparecem no seu contato com o parricida, relação que se desenvolve de forma verdadeira e afetuosa. O parricida de Robson Torinni tem uma história de maus tratos e pouco amor e com a sua carismática atuação não há como deixar de se ter um olhar sensibilizado. O ator conduz seu personagem transformando a visão que um criminoso representa para o senso comum num personagem humanizado pela dor e ingenuidade.

O cenário de José Baltazar , uma quadra de basquete envolta em grades e uma mesa de trabalho com um quadro branco do lado de fora são construções perfeitas. A iluminação de Maneco Quinderé é extremamente adequada às atmosferas que se alternam entre a prisão e o espaço de ensaio do espetáculo.

Ainda sobre a quadra de basquete é possível afirmar que também remete a uma gaiola, traduzindo o confinamento de alguém que cometeu um crime hediondo, mas o espectador é levado a não estabelecer um prévio julgamento e a conhecer a fragilidade humana. A gaiola não é um limite para Tebas Land, o espetáculo merece com muitos méritos alçar grandes voos.


Teatro Firjan SESI – Av. Graça Aranha, 1 – Centro, Rio de Janeiro, RJ
De 21/01 a 26/02– Segunda e Terças, às 19h
Classificação Etária: 16 anos 
Duração 1h40 
Valores dos ingressos : R$30 inteira / R$15 meia








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