Assim
que o espectador entra na sala começa o teatro dentro do teatro. O espetáculo
não é somente sobre conversas entre um dramaturgo e um parricida como fonte de
inspiração para uma peça, mas também os preparativos do ator e diretor para a
montagem, chamados propositadamente com o nome dos artistas que encenam Tebas
Land, Otto e Robson. A metalinguagem, por vezes, ultrapassa a quarta parede, a
parede imaginária que separa o público da encenação.
O texto do uruguaio Sergio Blanco que é apresentado pela primeira vez no Brasil
já foi encenado em outros países e premiado com o Award Off West End em
Londres. O texto é inspirado no mito do Édipo e na vida de São Martinho de
Tours, santo europeu do século IV. É um texto que apresenta uma reflexão sobre
o ser humano, o desamor e o resultado disso, a relação filial e o olhar sobre o
outro.
A direção de
Victor Garcia Peralta arma uma ótima teia para o espectador. O espetáculo se
desenvolve dentro e fora de uma quadra de basquete da prisão e os quatro
quartos de tempo do jogo cênico até a prorrogação vão sendo expostos num quadro
branco dissecando ora a vida real do parricida, ora a transformação deste num
personagem. E isso é perfeitamente demonstrado através de marcações repletas de
intensidade. Por vezes, o público é instigado a participar e tem vontade de interagir como
na cena em que numa crise epilética de Martín, o dramaturgo Otto pede socorro
com olhos fixos para a plateia. A
brilhante direção constrói cenas impactantes a todo instante.
O ator Otto Jr. imprime segurança e empatia com o público
desde o primeiro momento e essas características também aparecem no seu contato
com o parricida, relação que se desenvolve de forma verdadeira e afetuosa. O
parricida de Robson Torinni tem uma história de maus tratos e pouco amor e com
a sua carismática atuação não há como deixar de se ter um olhar sensibilizado. O
ator conduz seu personagem transformando a visão que um criminoso representa
para o senso comum num personagem humanizado pela dor e ingenuidade.
O cenário de José Baltazar , uma quadra de basquete
envolta em grades e uma mesa de trabalho com um quadro branco do lado de fora
são construções perfeitas. A iluminação de Maneco Quinderé
é extremamente adequada às atmosferas que se alternam entre a prisão e o espaço
de ensaio do espetáculo.
Ainda sobre a quadra de basquete é possível afirmar que
também remete a uma gaiola, traduzindo o confinamento de alguém que cometeu um
crime hediondo, mas o espectador é levado a não estabelecer um prévio
julgamento e a conhecer a fragilidade humana. A gaiola não é um limite para
Tebas Land, o espetáculo merece com muitos méritos alçar grandes voos.
Teatro Firjan SESI – Av. Graça Aranha, 1 – Centro, Rio de Janeiro, RJ
De 21/01 a 26/02– Segunda e Terças, às 19h
Classificação Etária: 16 anos Duração 1h40
Valores dos ingressos : R$30 inteira / R$15 meia
Peça maravilhosa mesmo...T prende do início ao fim. Amamos.
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