Quando o espectador
entra na sala escura, visualiza corpos aramados suspensos e se depara com uma
contagem regressiva, não tem a menor noção daquilo que o aguarda.
Através de diversas
linguagens, tais como: poesia, vídeo-projeção dos irmãos Renato e Ricardo
Vilarouca, instalação, performance, atores, bonecos e tudo isso ocorrendo em
360 graus, há uma imersão na intolerância, na barbárie, no horror, no abuso
das armas como ocorridos no 11 de setembro, nos terroristas decapitando cabeças, no assassinato de Pasolini...Essa experiência proposta é estarrecedora, extremamente importante porque, infelizmente, a violência é vivida ainda nos dias de hoje.
A Última Aventura é a
Morte, da Cia. PeQuod, dirigida por Miguel Vellinho, traz o poema de Heiner Müller,
Nota 409, escrito perto de sua morte na década de noventa, traduzido por
Leonardo Munk e com ótima narração de Osmar Prado, até hoje surpreendente por sua atualidade.
A poesia veio de encontro a tantas imagens guardadas no inconsciente e que
ganharam forma, segundo o diretor, através do impactante espetáculo.
A Cia. PeQuod,
premiadíssima ao longo de quase duas décadas, apresenta mais um trabalho digno
de prêmio. E o faz de forma ousada, demonstrando conhecimento em diversas áreas
da expressão artística.
Só para falar dos
bonecos, criados por Bruno Dante, são tão bem utilizados e manipulados pelo
elenco que temos vontade de vê-los em cena mais vezes. Há grande verdade em
tudo que o espectador presencia. Em uma cena de violência, o uso da luz
estroboscópica é um importante elemento para o alcance desse realismo. Mas isso não significa que o espetáculo não
recorra à simbologia, como exemplo a figura de Mefistófeles capturando almas.
Imprescindível destacar
que a excelência da peça está presente na direção, no elenco, nos figurinos de Kika de
Medina, na cenografia de Doris Rolemberg e na iluminação de Renato Machado.
Estamos armados,
aramados e cercados, mas a arte nos desarma e quando isso acontece é uma
aventura ímpar. A Última Aventura é a Morte é um espetáculo que humaniza. Como
escreveu Heiner Müller: ¨Porque o belo significa o fim provável dos terrores¨.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
Rua Primeiro de Março, 66. Centro – RJ | Tel.: 21. 3808-2020
Teatro III | Duração: 45 minutos | Classificação etária: 18 anos
Espetáculos de quarta à domingo às 19h30 | Estreia dia 24 de outubro
Ingressos: R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia) | De 24/10/18 a 16/12/18
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